Karpman (1941) introduziu a primeira categorização da Psicopatia como um constructo bifactorial, onde se podem distinguir o Factor 1 - Psicopatia Primária - e o Factor 2 - Psicopatia Secundária - estando o primeiro associado a défices afectivos, de origem genética e o segundo a uma fraca aprendizagem psicossocial com origem ambiental. O autor identificou um grupo de indivíduos que apresentavam um comportamento errático e marcado por condutas antissociais, que exibiam elevados níveis de ansiedade e de depressão, em conjunto com sentimentos de raiva, agressividade e impulsividade, aos quais designou por Psicopatas Secundários. Por outro lado, indivíduos com défices na sensibilidade emocional, que considerava serem inatos designar-se-iam Psicopatas Primários (Drislane et al., 2014).
Lykken (1957) também encontrou padrões de resposta contrastantes entre os dois subtipos de psicopatia, em tarefas de laboratório, onde constatou que o grupo com traços patológicos de Psicopatia Primária – com baixos níveis de ansiedade - se distinguia do grupo com Psicopatia Secundária – com elevados de ansiedade - pela incapacidade de inibir respostas de punição e por uma baixa activação fisiológica na antecipação da dor. Lykken (1995) considera que a psicopatia primária reflecte uma baixa predisposição para sentir medo, por outro lado, a secundária tem a sua base no temperamento, que nestes indivíduos se mostra excessivamente sensível à antecipação da recompensa.
A distinção entre a Psicopatia Primária e a Secundária é também adoptada por Robert Hare (1980; 1991). O autor define a patologia como uma dimensão contínua, constituída por dois grupos de indicadores, os de cariz afectivo e interpessoal e os relativos ao comportamento antissocial. Hare concebeu um instrumento que é actualmente o mais utilizado para avaliar a Psicopatia, a Escala Revista de Psicopatia (Psychopathy Checklist-Revised; PCL-R; Hare, 1991; 2003), que é composta pelos dois factores propostos pelo autor. A versão mais recente da escala discrimina os aspectos interpessoais/afectivos que se incluem no Factor 1 ou Psicopatia Primária, dos aspectos relativos ao comportamento antissocial e impulsivo que se enquadram no Factor 2 ou Psicopatia Secundária. Mais especificamente, no Factor 1, incluem-se itens como o charme superficial, o mentir patológico, o sentido de grandiosidade, o estilo manipulativo, a ausência de remorsos e de empatia, a superficialidade afectiva e a externalização da culpa. Por outro lado, no Factor 2 encontramos uma divisão em duas facetas: o estilo de vida impulsivo, que remete para a irresponsabilidade, tendência para o tédio, um estilo de vida “parasita” e o desvio social que se traduz em delinquência juvenil, fraco controlo comportamental e versatilidade criminal (Harpur, Hakstian & Hare,1989; Hare, Harpur, Hakstian, Forth, Hart & Newman, 1990; Hare, 2003).
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