Friday, December 25, 2015

Psicopatia?

De acordo com a literatura a Psicopatia é uma perturbação de carácter duradouro, com início em idade precoce, caracterizada por um padrão persistente de comportamento antissocial e criminal e por estilos de personalidade onde prevalecem características como a ausência de consciência, de empatia e de culpa, bem como uma incapacidade para estabelecer relações de lealdade para com outros. Esta perturbação está presente em publicações de psiquiatria (e não só) desde o século XIX. 

Já em 1801 o psiquiatra Francês Phillipe Pinel publicou a sua obra “Tratado médico filosófico sobre a alienação mental” evidenciando perturbações onde as emoções que estavam primariamente envolvidas. Pinel descreve pacientes que apesar de apresentarem características típicas de um quadro de mania, não sofriam de delírios nem de quaisquer défices cognitivos e incorriam frequentemente na prática de comportamentos antissociais, sugerindo a existência de psicopatologia, no entanto, sem comprometimento da capacidade de entendimento.
Também o Psiquiatra Inglês James Prichard (1835) encontrou pacientes com o que designou por "loucura moral", uma condição que levava a que alguns indivíduos, com capacidades intelectuais intactas, agissem de uma forma perversa, sem demonstrar quaisquer sentimentos de moral ou princípios éticos e diversos indicadores de conduta antissocial.

Esquirol, em 1838, surge com o conceito de “monomania”, baseando-se no envolvimento primário e independente das funções intelectuais, emocionais ou volitivas.

Lombroso (1880) propôs a existência de uma correlação entre personalidade e propensão inata para o crime, surgindo com a teoria do "delinquente nato". Para o autor a identificação destes indivíduos podia ser feita com recurso à análise das suas características físicas, como a estrutura e a simetria corporal.

Morel (1957) descreveu estes indivíduos como “maníacos instintivos” e considerava que a patologia se manifestava numa idade muito precoce, com sinais de depravação das tendências morais. O autor considera o factor etiológico como sendo crucial na patologia e criou uma categoria que denominou por “loucura dos degenerados”. Morel considerava o efeito de agentes externos como o álcool e outros produtos tóxicos, que poderiam predispor um indivíduo para a degeneração.

Koch (1888) surgiu com o conceito de “Inferioridade Psicopática”, sendo a escola Alemã a primeira a recorrer ao termo “Psicopatia” para esta perturbação. Este conceito abrangia todas as perturbações da personalidade, congénitas ou adquiridas, que tivessem influência na vida pessoal do sujeito e que, embora não fossem consideradas como patologia mental, davam a entender que as suas faculdades mentais se encontravam comprometidas (Millon, Simonsen, Birket-Smith & Davis, 2003).

Kraeplin (1904) propôs a categoria “personalidade psicopática”, onde se incluíam indivíduos com inibição do desenvolvimento da personalidade nas dimensões afectiva e volitiva e alguns casos fronteiriços de psicose. O autor encontrou um subgrupo de indivíduos com patologia que designou por “vigaristas”, que se caracterizavam pela sua eloquência e charme mas detentores de uma total ausência de moralidade ou lealdade para com os outros. Refere-se a estes sujeitos como sendo tipicamente especializados na prática de fraude, manipulação e usualmente acumulam dívidas de somas avultadas que não têm intenção de pagar (Herpertz & Sass, 2000; Patrick, Fowles & Krueger, 2009; Shine, 2000).

Hervey Cleckley (1941; 1988) ao longo da sua carreira clínica teve a oportunidade de observar inúmeros casos de indivíduos com patologia mental, e dessa observação salientou-se um grupo de pacientes que apresentavam um perfil, considerado único pelo autor, pelas suas características afectivas e interpessoais, como a baixa ansiedade, a incapacidade para sentir culpa ou vergonha, a incapacidade para manter relações amorosas ou intimas estáveis, superficialidade emocional e incapacidade de estabelecer relações de confiança e pelo seu comportamento impulsivo e irresponsável.

O psiquiatra Americano Benjamin Karpman (1941), introduziu a primeira categorização da Psicopatia como um constructo bifactorial, onde se podem distinguir o Factor 1 - Psicopatia Primária - e o Factor 2 - Psicopatia Secundária - estando o primeiro associado a défices afectivos, de origem genética e o segundo a uma fraca aprendizagem psicossocial com origem ambiental. O autor identificou um grupo de indivíduos que apresentavam um comportamento errático e marcado por condutas antissociais, que exibiam elevados níveis de ansiedade e de depressão, em conjunto com sentimentos de raiva, agressividade e impulsividade, aos quais designou por Psicopatas Secundários. Por outro lado, indivíduos com défices na sensibilidade emocional, que considerava serem inatos designar-se-iam Psicopatas Primários.
 
Assim surgiu a mais comum distinção entre as duas variantes da Psicopatia, ainda utilizada actualmente.

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